domingo, 21 de dezembro de 2014

Fénix

Não há oração que traga tamanha resolução. As feridas cicatrizadas, as esperanças renovadas e um dia depois de amanhã. Dormi uma era e meia, sacudi o sufoco da noite que me trazia e abri os braços ao nevoeiro clandestino.
Clandestino-destino: rima mas já não importa mais. O sentido evaporou-se e a métrica obliterou-se - as palavras já não me tocam.
Marcada mas ilesa. Rio, majestosamente ridícula. A vida deslumbra-me e eu deixo.

Abres os olhos e apanhas-me sem contar. Entre as cinzas, finjo distração, talvez alienação. Mas não há muros, não há filtros.

Olhas-me. O choque da harmonia perfeita entre o desassossego e a paz.
Olhas-me. E, eu sei que mal cheguei mas, por favor, deixa-me entrar.  

Verde - Lodo - Mentira

Tenho um gigante a clamar o espaço que deixaste, o Ódio. A única coisa que sobreviveu, a única coisa real que se deu e que ficou. A tua maldade pegou-se a mim como o lodo nos cais.

Estou sozinha. E não me incomoda estar assim. O que me incomoda é não ter reparado que foi sempre assim.
Tu, a ausência total encoberta na minha ignorância de amor maior. Tu, a incógnita infinita de um amor-mentira, sorvido atrás de portas, ignorado entre os compassos das respirações sórdidas do desejo.

Com todas as minhas forças desejo-te a morte. E tu morres. Tu morres, dentro dela. E renasces. E morres, para voltar a nascer, dentro dela. E aí eu sei que estou bem viva.
Porque no final eu soube a cor que escondias.
Verde-Mentira.
 Eu soube a cor que afinal não queria entender.
Verde - Mentira.



(Morreste-me. Por fim.) 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Epifania

Um toque brando de harpista e de uma avidez de sem abrigo - é o meu- que embate nas linhas do teu corpo como uma tempestade temperada. Guio as minhas mãos pelas cidades desertas dos teus ombros nus, não há interferência, nem o marulhar excelso de uma qualquer harmonia musical extraviada. Guio-as como se te reclamasse para mim, como se uma criatura vigilante se aninhasse no meu peito paralisada e expectante ansiando um único roçagar de alma. O brilho selvagem dos olhos anda solto, os corpos fundem-se como metal líquido incandescente nesse deslizar compassado e sacudido. E eu procuro-te nessas ruas, onde surges desfragmentado em reflexos ocasionais, onde te retiras e onde te adivinho no caminho de desertor.

Não demora. Ruínas e sombras é o que me assoma. A ilusão da magia que ainda trago presa arrasta-se mas detém-se no limiar da pena e do silêncio condescendente. Nada me resta. Eu sou aquilo que me tornei, o que nos tornaste: um rasto enterrado de alguém empedernido demais.

Essa lágrima é tudo o que me resta. Já morri vezes demais. E chego tarde demais. Sou uma Fénix cansada. Arrasto interminavelmente este fardo, marca-me para sempre este fado. És a única coisa que vale a pena. Eras a única coisa que valia a pena. Falhei.



Mas amanhã já esqueci a epifania outra vez. E engano-a, engano-me, uma e outra vez. Tu és o único que deixou de enganar-nos…


Talvez.



Não.


domingo, 16 de outubro de 2011

Silêncio

A morte anunciada impôs-se simples, sem fantasia nem excepções. O místico ficou para trás, restos dilacerados do que um dia foi, murmúrios de desejos inconsequentes, versos e música, estrelas cadentes…

 Olho-te e vejo, apenas, as esperanças que verti nos teus olhos, o ímpeto e as contradições nas pontas dos teus dedos, o mundo a desfazer-se contra o teu peito. Silêncio. Contemplo o fragmento de vida sublime e a luz que se escapa através das paredes. Tocas-me. Silêncio. Penso que nem a morte cala as minhas vozes. Silêncio.

Trago-te nos olhos, nas mãos, na pele, no cabelo.
Mas é mentira, é um segredo, é um silêncio.

sábado, 1 de outubro de 2011

O tudo e o nada (traição dos sentidos)

[Palavras de cinza e saliva seca - um pregador só, absorto no limiar do esquecimento, fantasma escorregadio entre a colisão interplanetária dos dias alheios a qualquer doutrina.]

Amantes no coração, elos intemporais, almas de sangue transcendente - eu e tu - tempestades sobrenaturais em copos de vidro fosco.

O tudo e o nada: essas feras a despedaçarem-se uma á outra, quando a sua existência não se desdobra. Apenas intervêm com os mesmos passos e observam-se na mesma realidade antípoda, quais gémeos separados à nascença.

A traição dos sentidos: quem vê com o coração chora com todos os olhos do mundo.


De que vale o passado e o presente? – essa amálgama de vivências extintas na felicidade do primeiro olhar da manhã, o choque temporal e circunstancial; e o truque dos espelhos, as identidades renovadas, revogadas, perdidas ou encontradas...

O tempo é só um vazio pleno.

Tudo passará,

a história escrever-se-á à máquina
os demónios tentarão as sobras da inocência revisitada
as paixões consumar-se-ão nos recantos obscuros e bafientos
os caminhos avançarão no mistério insondável do amanhã
as barbas dos velhos conhecerão novos tons de prata
a verdade correrá com os pés nus na areia molhada
os ventos levarão os cheiros e as sementes para bem longe
os corpos apodrecerão alheios ás memórias
a vida florescerá vitoriosa apenas por acaso
as aves partirão, para voltar ou para morrer

Mas nada, nada me trará o teu amor.

sábado, 30 de julho de 2011

Estrela Cadente

Entras em mim, como numa loja de conveniência.
O meu orgulho é o capacho enegrecido que pisas sem penas.

O reflexo iridescente que exala de ti deslumbra-me no âmago de tudo o que sou e alguma vez fui. Essa poeira cósmica, o teu rasto, são réstias da quimera feliz que me traz submissa na sombra.

Acidente premeditado,
amarras soltas,
casco rasgado,
navio ferido em mar alto.

Agora ou nunca- o grito na noite que foi mais além, onde nem os sonhos vão. Em vão.
Tenho vergonha de dizer que amo, o (meu) genuíno e puro não te servem.
Mais uma linha, que importa? As paredes são surdas e o mundo pequeno demais para tamanha afasia.

Sobram-me todas as coisas que ignoras.
Querer, sem querer.
Estar, sem estar.
Ser, sem ser.

Vendo-me porque é tudo o que me resta.
Vai e volta, sempre.


Dicotomia (verde-destino)

Eu esperei, penosamente, nestes portões da Terra de Ninguém, comidos pelo tempo. Esperei e o ódio nunca chegou, o amor nunca partiu. Esperei, com uma promessa por pagar; essa súplica, esse cântico que me queimou a boca e me alimentou como água benta no inferno, como um veneno que se torna um sinal de fé.

E então o sol traz-te, como miragem fantástica, e assim que os meus olhos cegos de sal te sentiram eu perdi todos os jogos de poder, todos os ceptros e coroas.
O teu verde tolda-me o olhar frio, destrói as paredes muralhadas da minha torre alta, confunde o meu instinto de sobrevivência e arranca-me a máscara que forjei. Esta vontade infinita que me guia é o âmbar da profecia furtiva.

Esta força,
és tu,
que rasga as páginas deste livro aberto que sou.

Sorriso aberto, possuidor da verdade, de todos os mistérios e utopias,
és tu; amordaças-me a prudência e silencias as vozes.

Este desejo,
és tu,
que arranca a ferros esta pele de mulher, a armadura de soldado imortal.

A esperança que recusou a morte,
és tu,
que me tomas neste lençol que antes me amortalhava.

[Adormece-me os sentidos, mostra-me o senso e a vergonha, porque eu estou num ponto sem retorno, a cair no abismo da ignorância propositada.]

Dicotomia de passado e presente,
racional e irracional,
loucura e auto-preservação,
és tu.

Dicotomia de medo e desejo,
de certezas feitas de papel e mãos fortes como correntes do destino,
és tu.

Assino o ultimato à minha existência. Porque és tu.
Atiro o ultimato à tua existência. Porque sou eu.

É agora ou nunca. O destino não espera como eu esperei.


Se vens agora, não olho mais para trás.
Se parto agora, não volto nunca mais.

És tu.
Veste-me dessa cor, da tua cor. Verde-destino.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Jogos

Enquanto o teu sorriso afectado dança nessa espécie de (des)concerto e passeias por mim o teu olhar de luxúria, como quem atiça infernos dignos de literatura, eu já venci o xadrez dos dias, da consciência e dos espelhos. A bandeira que trago é branca mas o teu pecado é o negro da cobiça. Se os teus intentos são maculados como as memórias que tingiste em mim, deserta-me agora, porque as tuas linhas de vitória já eu as tracei a ferros nas minhas mãos. Sei que no final ficam apenas as peças do jogo calculista e o rasto de pólvora dos teus artifícios egoístas. Eu quero-te, mas não assim como queres que te queiram, nesse tango ardiloso, nesse emaranhado de vontades cruas que não sabes controlar. Quem foi que te fez deus nesta Terra de Ninguém? No meu universo podes ser um ser único, estranhamente impune, mas devias saber que já vivi o suficiente para saber que o poeta tem razão quando diz "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". E eu ainda não sei de que cor são os teus olhos...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Paródia sem misericórdia em Mi bemol

“Hoje, precisava de ti”.
Esta recorrência é dura e crua e suga-me a paciência. E eu sugo este cigarro. O fumo lembra-me o resto de nós, depois de morrer, este pairar erróneo e o esvair patético no universo de ar desperdiçado.

“Hoje, precisava de ti”.
Sufoco um riso louco que me faz vibrar as entranhas. Já não bastam fonemas, grafemas, os poemas…afoguei neste mar de ridículo.

“Hoje, precisava de ti”.
Éne Ó Ésse num filme kitsch que passou para uma plateia de cegos de trejeitos nada satisfeitos. E contrafeitos, não há argumentos.

“Hoje, precisava de ti”.
Dó Ré Mi, sabes lá tu se não morri!? Aquecimento global, a política em Portugal, conforto espiritual, o amor e uma cabana… E eu ia importar porquê?

“Hoje, precisava de ti”.
ELE lá escreve direito em linha torta e bem diz o povo que o passado é letra morta. Eu digo que odeio clichés, mas eu falo demais…

“Hoje, precisava de ti”.
Enquanto eu dormia, falaste-me e disseste que só me podias dizer metade. Mas metade de quê?!... O meu sentido das coisas é uma prostituta travesti.

“Hoje, precisava de ti”.
És uma cicatriz e estes desejos, preces e lamentos já nem me sabem a nada. Reduzo-me à minha condição de actriz. Digo, atrás, ficou tudo lá trás.

“Hoje, precisava de ti”.
A minha paixão por cada (tua) imperfeição deu-se como desaparecida em combate.

“Hoje, precisava de ti”.
És tão feliz com ela… e eu perdi-me entre alfas e ómegas, sorrindo profunda mente.

“Hoje, precisava de ti”...
Tudo isto é uma paródia sem misericórdia, em Mi bemol.

(Porque…)

“Hoje, precisava de ti”.
Rima com idiota e comigo.
Eu precisei tanto de ti e tu nunca precisaste de mim...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Diz-me de que cor são os teus olhos

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando a vida é incómoda como o sabor do alcatrão na minha boca; e as promessas são fantasmas surreais dos consolos rotineiros de outrora.

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando os olhares nas fotografias estão mortos, homicídios hediondos por entre luz e partículas de nada, espaço oco e sem memória.

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando já não há qualquer diferença entre manhã e madrugada; e a noite é apenas um estilhaço perdido, nas cinzas de uma chuva perfumada de enxofre.

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando essa indiferença de veludo é negra como a mão da morte; o espinho perpétuo em carne pútrida cicatrizada.

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando o ar entre nós é veneno diluído, numa visão discreta e distraída; uma farsa reles num palco apagado.

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando o tempo é um velho vagabundo que se arrasta em passos dolorosos numa peregrinação cansada, sem princípio nem fim.

Diz-me de que cor são os teus olhos,
quando o ódio não chega e o amor não parte; e a alma é transvestida em tons indecisos de cinzento e verde, num dia enganado que morreu em vão.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Epíteto do Ilustre (Des)conhecido

Na tua verdadeira essência, confundes-te, amarfanhando relógios e alterando conceitos. Aquele sentimento ardiloso muta, troca, transgride, insinuando-se até os olhos arderem de angústia. É a voz que queres calar e te rompe a garganta, é a obsessão que te consome e que na ânsia de a calcar não reparas que é ela que te calca e que te prende os movimentos. E faz sangrar o amargo sangue derramado sobre as estrelas que a tua vontade escreveu, um dia, no céu. O céu que queres tocar, que pisas sem notar...
Podias ser tanto, mas em ti, a potencialidade é morta à nascença… Perdes-te no chão, fazes da lama camuflagem para que te não vislumbrem, mas não vês que ao enterrar-te levas contigo a esperança que te podia salvar, e ficas assim, como uma respiração sustida.


Mas eu nunca te abandonei, nem mesmo depois de mortos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sujo. Duro. Puro. (realidade em segundo plano)

Sujo. Duro. Puro.
A elevação para uma realidade transcendente.

O prazer chama, hipnotizante, como um som invisível de baixa frequência, materializado no mais sensível ouvido;
Os sentidos estão alerta: vertigem electrizante despertada por um mero afago; a língua que desenha caminhos secretos no itinerário labiríntico da pele.

E uma força que é de um universo inteiro
que conspira,
e transpira
o corpo nu e frágil.

Os cheiros pungentes, repulsivos e cativantes, que gritam malícia e animalesco,
química orgânica pecaminosa de uma criação divina: o corpo de um anjo caído, sem nome, talvez “Qualquer”, que não resistiu à armadilha do prazer da carne.

O mais natural dos podres suculentos e deliciosos, como o saborear de um fruto maduro e perfumado roubado de pomar alheio.

Certo ou errado?
Condenar a obra de Deus ou julgá-lo ardiloso?
Um ridículo quebra-cabeças da mente humana?
Moralidades fictícias de contos para adormecer?

Abandonar a realidade.
A vergonha e as regras de etiqueta fechadas num compartimento caustico.

E o êxtase cresce na efervescência do sangue…
Sujo. Duro. Puro.
Dá-me. Quero. Mais.


Até abrir os olhos e chegar a manhã, com os primeiros raios de sol da realidade.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Morreste-me (um vazio que mata)

São negros os dias.
O luto é a eternidade do tempo sem ti.
O adeus forçado, que é esta fúnebre tristeza pintada com laivos de revolta, é o fel que não se engole.
És o fantasma que passa e me atormenta, no frio que trespassa todas as camadas de ar e de pele até atingir a minha alma inglória.

Partiste, rasgaste os laços e foste, quase sem me aperceber, como um barco que rompe a água, no silêncio de um corpo que parte mais ligeiro que a mágoa.

E dóis-me em cada passo que dou nas ruas que percorremos juntos e em cada pormenor das coisas que olhámos.
E feres-me no som dos risos e das conversas que agora são mudas como um silêncio dormente e sepulcral.
E definham os pedaços de mim, dilacerados no côncavo vácuo de um abraço espectral…

A bruma avança para mim, e pereço com o que alguma vez sobrou de nós, rastos que se desprendem por entre os dedos, como purpurinas ao vento, e que nem roçam sequer uma centelha de magia quando passam pela ignorância dos outros.

[Os relógios estão avariados: pedaços de realidade embatem contra mim e em clamores sussurrantes afirmam que o tempo é veloz; mas eu (re)vivo tudo, hipnotizada pelos estalos de uma faixa num vinil riscado. Tento suprimir as memórias, tingi-las e apodrecê-las, mas elas não dissipam. Não sou capaz de as asfixiar, são como imagens num filme a passar, todos os minutos iguais.]

Nesta linha temporal amorfa, ainda permaneço na encruzilhada onde me deixaste. Ainda sinto o teu abraço indolente, ainda vejo a tua camisa manchada pelas minhas lágrimas, ainda desço a rua em passos atordoados ao som da chuva que cai, vezes e vezes sem conta… Meses passaram, a chuva volta (apesar de nunca ter deixado de cair). Meses passaram, o inverno volta (apesar de do meu corpo nunca se ter despedido).

Abandonaste-me. E agora abandonam-me até as viagens suicidas, as ideias de auto-destruição e as tentativas de arrancar-te esse véu estranho que te torna inatingível. O desprezo que me deste é um gigante a que não posso fazer frente.

Procuro ainda, nos teus olhos turvos, sinais do teu tempo e da tua realidade sem mim. A saudade torna-me um mártir e cada dia é um vazio. O vazio que se esconde entre aparências e fingimentos… Este vazio que tortura, este vazio que corrói, este vazio que mata…

sábado, 20 de junho de 2009

Tagetes Patula

Ignoro-a. A realidade. Esqueço-me que ela é inexorável, finjo esquecer-me que ela é deusa e senhora de todos os planos em mim. Fecho as portas e as janelas, não tolero a órbita dos olhos a rondar-me. Não tolero a luz que me queima como o ácido do passado desconfortável. Não quero, mas estou aqui amarrada, nas sombras das memórias. As memórias que tornam este chão distante e errante, longe de ti. Sufoco nos medos que me prendem, e o meu rosto arroxeado volta-se para o teu vulto, real e inalcançável. As verdades esperam lá fora, esperam ser proferidas, e o grito mudo repete-se, insistentemente, até o próprio eco ficar rouco.
A estática está toda errada, não há cálculos nem verdades absolutas, a estupidez do equilíbrio de forças é um jogo que me cansou. E definho, na crueldade do passar do tempo e das acções, ou da ausência delas. E na tua ausência.
Cravo as unhas na minha pele, até doer, pois não suporto o peso do ar que me comprime e empurra para o limbo, nos olhares desviados, nas situações dúbias, nas vontades negadas, nas intenções mal deduzidas.
Aqui, o ímpeto da quezília e a desilusão foram castelos sólidos onde me abriguei. Mas o tempo é o mar que os destrói, como se de areia fossem. O ‘incondicional’ é o mar que os destrói, porque de areia são, efémeros e sem valor, abandonados por mim.
As culpas distribuem-se nos pratos de uma balança, mas o arrependimento não assoma, porque os erros são fáceis, e até as mais idiotas ou execráveis contrariedades são necessárias para medir a força dos elos. E as palavras podem ser vãs, mas também podem ser elos.
Cedo, não aguento o peso dos dias, aqui. As aparências iludem [“(…) não gosto menos de ti”].


Numa caixa velha e comida pelas traças, estão tesouros escondidos. Dentro, há uma flor que seca e definha, mas que não perece. Em cada lamento lembra, em cada pétala murmura: incondicional, Tagetes Patula.




[Para A. M.]

sábado, 9 de maio de 2009

Definição de eterno

Até onde será que vai o eterno? Quanto mede?
Medirá talvez o mesmo que as esperanças e ilusões de um sonhador; o mesmo que uma verdade ou certeza cega; talvez a precisão de um objectivo; ou até mesmo a profundidade de uma quimera, que deambula pelos caminhos do mundo, porque o homem (e o seu ego) quer ser mais que o tempo. Mais que tudo isto é o impulso do homem de dar uma reviravolta na sua natureza de máquina e, não conseguir matar o suspiro esperançoso, (que é afinal um sonoro rugido), que o alimenta. Este egoísmo é o mais bonito e inocente de todos.
E tudo isto é o eterno.