segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tentativa Vã II

[Não me lembro de pedir-te coisa alguma mas…] Ofereceste-me uma janela nova, com vista para um mundo utópico e eu, eu toquei-lhe ao de leve, como quem mergulha os dedos trémulos na superfície incerta de um lago negro. Trouxe apenas um sorriso emoldurado, duas mãos cheias de esperança e um fascínio desmedido.

[I found my way. I’m here this day. ] Por fim, orientei-me no infinito labirinto e afinal, sou só um corpo numa viagem kármica a dar provas de uma moralidade castigada.
As palavras são promessas cegas. As palavras são correntes invisíveis. São afinal ilusões baratas, difíceis de esquecer, como esse teu perfume pungente. E que deixam indeléveis marcas como os raios vermelhos e o ardor das unhas cravadas na carne.
Aqui estou eu, suspensa num ponteiro de um relógio a que dei corda. Sufocada por verdades mudas que não consigo entender, para bem de um plano maior. O orgulho fecha caminhos, cava abismos mais profundos e inventa noites mais escuras.
Pensei ter despertado a coragem e continuo perdida e confusa, ignorante e de olhos bem fechados como no dia em que nasci.

Vestes-te de senhor da verdade e da razão e atiras na lama os teus desígnios. Desígnios que foram mais curtos que as palavras.
Soubeste provocar-me com a débil chama de uma vela, consumir-me numa deliciosa fogueira e eu ardi, ardi entorpecida no fogo da mentira.

Mereces tanto, disse eu. Mereces mais do que esta ridícula lágrima, mais do que os meus teimosos passos, mais do que os meus insistentes braços.
O teu toque, o teu sorriso, o teu abraço são lampejos de um mundo roubado que significaram demais.

És só mais um corte na minha pele indigna que não exala redenção.
Perdoo-te se me conseguir perdoar, foi (mais) uma tentativa vã que levou demais, que custou demais…




[E apesar de tudo o que sinto, não gosto menos de ti.]